segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Os jornalistas e Israel - 4

"Embora a obsessão mundial com Israel seja um dado adquirido, ela é na verdade o resultado de decisões tomadas por seres humanos individuais em posições de responsabilidade, neste caso, jornalistas e editores."

Os jornalistas e Israel - 1

Os jornalistas e Israel - 2

Os jornalistas e Israel - 3



 Matti Friedman, o autor deste artigo que continuamos a traduzir
Guia de um "insider" para a história mais importante da Terra
Um ex-correspondente da AP explica como e porquê os repórteres entendem Israel tão mal, e porque é que isso é tão importante.
Por Matti Friedman
26 de Agosto de 2014
O que mais não é importante?

O facto de que os israelitas têm escolhido governos moderados que buscam a reconciliação com os palestinos, e que foram prejudicados pelos palestinos, é considerado sem importância e raramente mencionado.
Estas lacunas muitas vezes não são descuidos, mas uma questão de política.
No início de 2009, por exemplo, dois colegas meus obtiveram informações de que o primeiro-ministro israelita, Ehud Olmert, tinha feito uma oferta de paz significativa à Autoridade Palestina há vários meses, e que os palestinos consideraram insuficiente. Isso não foi relatado, e foi - ou deveria ter sido - uma das maiores histórias do ano. Os repórteres obtiveram a confirmação de ambos os lados e um viu mesmo um mapa, mas os principais editores decidiram que não iriam publicar a história.

Alguns funcionários estavam furiosos, mas isso não ajudou. A nossa narrativa foi que os palestinos foram moderados e os israelitas recalcitrantes e cada vez mais extremos. Relatar a oferta de Olmert obrigaria a grande pesquisa sobre o Hamas e a sua natureza. E assim, fomos instruídos a ignorá-la. O que fizemos, por mais de um ano e meio.

Essa decisão ensinou-me uma lição que deve ficar clara para os consumidores da história Israel: Muitas das pessoas que decidem o que você vai ler e ver  a partir daqui, não vêem o seu papel como explicativo, mas sim como político. A cobertura é uma arma para ser colocada à disposição do lado que eles querem.

Uma evidência fresquinha e repugnante da manipulação das notícias que envolvem Israel: ontem jogou-se uma partida de futebol decisiva entre o País de Gales e Israel. A foto escolhida pelo departamento desportivo da BBC para ANUNCIAR o evento foi esta que vedes em cima. O jogo terminou empatado a zero. Cá fora, as bestas nazis uivavam, como no tempo do Hitler.

 Como é enquadrada a história jornalística de Israel?
A história Israel é enquadrada nos mesmos termos que têm sido utilizados desde o início da década de 1990: a busca de uma "solução de dois Estados."
Aceita-se que o conflito é "israelo-palestino", o que significa que é um conflito que tem lugar em terras que Israel controla - 0,2% do mundo Árabe - ou seja, é um conflito entre os 6 milhões de judeus de Israel e os 300 milhões de árabes em países vizinhos. (Talvez descrevê-lo como "israelo-muçulmano" fosse mais preciso, tendo em conta a inimizade de Estados não-árabes como o Irão e a Turquia, e, mais amplamente, de 1 bilião de muçulmanos em todo o mundo.)
Este é um conflito que tem vindo a ser apresentado de diferentes formas durante um século, antes de Israel existir, antes de Israel ter capturado os territórios palestinos de Gaza e da Cisjordânia, e antes de o termo "palestino" estar em uso.
Os jornalistas ocidentais não vão a Israel fazer Jornalismo. Vão colaborar na propaganda dos terroristas. Vão fazer TERRORISMO.

O enquadramento "israelo-palestino" permite que os judeus, uma pequena minoria no Médio Oriente, sejam descritos como o lado mais forte. Este enquadramento também inclui o pressuposto implícito de que, se o problema palestino for de alguma forma resolvido, o conflito acabará, embora nenhuma pessoa informada acredite hoje que isso seja verdade.
Esta definição também permite que o projecto de assentamentos israelitas, que eu acredito que é um erro moral e estratégico sério da parte de Israel, seja descrito não como o que é, mais um sintoma destrutivo do conflito, mas sim como a sua causa.Um observador experiente do Médio Oriente não pode evitar a impressão de que a região é um vulcão e que a lava é o Islão radical, uma ideologia cuja diferentes encarnações estão agora a moldar esta parte do mundo.
Um exemplo clássico de colaboração entre jornaleiros e terroristas (outra vez a BBC):  este homem apareceu nos noticiários como tendo sido morto num raide aéreo israelita na guerra com o Hamas, no Verão passado. Acabada a encenação, o nosso amigo levantou-se e foi à sua vidinha, e os jornalistas correram a enviar a "prova" de mais uma "atrocidade" israelita.
Israel é uma pequena aldeia nas encostas do vulcão. O Hamas é o representante local do islamismo radical, e é abertamente dedicada à erradicação do minoritário enclave judaico de Israel, assim como o Hezbollah é o representante dominante do islamismo radical no Líbano, o Estado islâmico na Síria e no Iraque, os Taliban no Afeganistão e Paquistão, e assim por diante.
O Hamas não é, como ele próprio admite, parte do esforço para criar um Estado palestino ao lado de Israel. Tem objectivos diferentes, sobre os quais é muito aberto, e que são semelhantes aos dos grupos listados acima. Desde meados de 1990, mais do que qualquer outro protagonista político, o Hamas destruiu a esquerda israelita, seduzindo os israelitas moderados contra retiradas territoriais, e enterrou as chances de um compromisso de dois Estados. Essa é a maneira precisa de enquadrar a história.
Um observador atento pode também enquadrar a história através da lente das minorias no Médio Oriente, as quais estão sob intensa pressão do Islão: Quando as minorias são impotentes, o seu destino é o dos yazidis ou o dos cristãos do norte do Iraque, como temos visto. Quando as minorias estão armadas e organizadas, elas podem lutar e sobreviver, como no caso dos judeus e (esperamos) dos curdos.

Há, por outras palavras, muitas maneiras diferentes para ver o que está a acontecer aqui. Jerusalém fica a menos de um dia de carro de Aleppo ou de Bagdad, e deveria ser claro para todos que a paz é bastante rara no
Médio Oriente, mesmo em lugares onde os judeus estão ausentes.
Mas os repórteres geralmente não conseguem ver a história Israel em relação a qualquer outra coisa. Em vez de descreverem Israel como uma das aldeias adjacentes ao vulcão, eles descrevem Israel como o vulcão.
A história de Israel é moldada para parecer que não tem nada a ver com os acontecimentos nas proximidades, porque o "Israel" do jornalismo internacional não existe no mesmo universo geo-político que o Iraque, a Síria ou o Egipto. A história de Israel não é uma história sobre eventos reais. Trata-se de outra coisa.
Israelitas mortos pelos terroristas. Israel chora. Os terroristas celebram. Os jornaleiros  também. Os jornaleiros desejariam que o destino dos judeus fosse o mesmo que o das outras minorias do mundo islâmico. Alguns apoiam abertamente os grupos terroristas - e gabam-se disso.

CONTINUA

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